quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Resenha 2.

DELIZOICOV, Demétrio. Pesquisa em ensino de ciências como ciências humanas aplicadas, In: Caderno Brasileiro de Ensino de Física. v. 21: p. 145-175, ago. 2004 Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/Ciencias/Artigos/delizoicov.pdf Acesso em 19 ago 2011


RESENHA


Ivanderson Pereira da Silva


O autor desse estudo é Licenciado em Física (1973) e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (1991). É professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina trabalhando no Centro de Ciências da Educação, mais especificamente no Departamento de Metodologia de Ensino. Atua na área do Ensino de Física, Epistemologia do Ensino de Ciências no viés popperniano, Formação de professores, ensino de ciências da natureza na educação fundamental das sérias iniciais.
Nesse estudo, o autor enfoca e problematiza o quadro geral das pesquisas brasileiras que foram realizadas nessa área (e com destaque especial para as pesquisas em Ensino de Física) até o ano de 1995. Evidencia ainda a estreita relação entre a pesquisa em ensino de ciências e a área das Ciência Humanas Aplicadas. Sua finalidade é se pronunciar principalmente acerca das produções científicas em dissertações e teses da área do Ensino de Ciências no Brasil.
No primeiro tópico do artigo, a “Introdução”, o autor vai situar a pesquisa científica no Brasil como oriunda dos programas de pós-graduação e afirma que os primeiros cursos que produziram pesquisa na área de ensino de ciências foram os Programas de Pós-graduação  em ensino de física da UFRGS e da USP na década de 1970. Tais programas nascem a partir dos Institutos de Física dessas instituições.
O da UFGRS, inclusive, como uma linha do Programa de Pós-graduação em Física, em que a formação básica em termos de disciplinas obrigatórias era aquela destinada à formação dos pesquisadores nessa área. Já o da USP foi implantado através de um programa criado em parceria pelo Instituto de Física e pela Faculdade de Educação, ou seja, instituiu-se como um curso de pós-graduação independente tanto do programa da Física como do da Educação, mas sempre com a coordenação acadêmica e administrativa do Instituto de Física.” (DELIZOICOV, 2004, p. 146-147).

O autor vai eleger como um segundo marco relevante da evolução da Pesquisa em Ensino de Ciências, a criação do GT Ensino de Ciências na CAPES trinta anos depois do início dos PPGEC. A evolução das pesquisas nessa área se dá ainda pela criação de linhas de pesquisa dentro dos PPG em Educação para a área de EC na UNICAMP, UFMG, UFRN, UFSC e USP. No entanto, tal evolução é ponderada pelo autor quando diz que em contraste ao reconhecimento do delineamento da área, “a solicitação de recursos financeiros para as pesquisa em EC no CNPq foi e continua sendo endereçada ao comitê de Educação, que pertence à grande área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.” (p. 147)
O segundo tópico, intitulado “Cronologia e status da área”, o autor  toma por base uma revisão de literatura a partir de pesquisas do tipo metanálise para afirmar que “embora a pesquisa em EF seja feita por físicos, os fundamentos teórico-metodológicos que empregam na pesquisa têm origem nas Ciências Humanas e não na Física, mesmo que os conteúdos desta estejam presentes e, portanto, de algum modo também as teorias e os procedimentos da Física, mas não são estes (ou só estes) que instrumentalizam a pesquisa em EF/EC” (p. 148).
O primeiro sub-tópico desse segundo tópico intitulado “Eventos científicos da área” vai enfocar e destacar os principais eventos para a área de Ensino de Ciências. Simpósios Nacionais de Ensino de Física (SNEF - 1970), Encontro de Pesquisa em Ensino de Física (EPEF - 1986) ambos organizados pela SBF. Sendo o primeiro, voltado para estudos que enfocam o ensino médio e o segundo para pesquisas universitárias.
No diálogo com as outras áreas do conhecimento pode-se destacar o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC - 1997). Também se publicam estudos na área do ensino de ciência nos Reuniões Anuais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e os Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), Seminários Sul Brasileiro de Ensino de Ciências, dentre outros.
Um segundo sub-tópico deste segundo tópico é intitulado “Periódicos”. Neste tópico, o autor vai apresentar os principais periódicos nacionais nos quais as pesquisas em ensino de ciência são publicadas: Revista Brasileira de Ensino de Física, (1979), Caderno Catarinense de Ensino de Física, (1984). Na interface com outras áreas, pode-se destacar as revistas: Investigação em Ensino de Ciências, Ciência e Educação, Ensaio, Pesquisa em Educação em Ciências, Química Nova na Escola, Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências.
O terceiro sub-tópico deste segundo tópico intitulado “Produção da área em dissertações e teses” parece ser o objeto centra do estudo e vai evidenciar três estudos nos quais é possível encontrar o levantamento das produções de teses e dissertações da área do ensino de ciências no Brasil até 1995. São eles: Ensino de ciências no Brasil - Catálogo analítico de teses e dissertações (FAE - UNICAMP), Ensino de Física no Brasil: catálogo de dissertações e teses (1972 -1992) (IF – USP) e Ensino de Física no Brasil: catálogo de dissertações e teses (1993 -1995) (IF – USP). Vai fechar esse tópico com a seguinte questão:
Qual é o retorno, em termos de usos e aplicações, dos resultados de pesquisa em EC para alterações significativas das práticas educativas na escola?
O terceiro tópico do estudo traz como título “Os resultados de pesquisa em EC e as práticas educativas” na tentativa de responder a questão posta. O autor vai afirmar que para o exame desse problema, três aspectos, pelo menos, precisam ser analisados: o teor das pesquisas; o uso dos resultados das pesquisas nos cursos de formação, tanto enquanto subsídios para a atuação do docente formador de professores, como conteúdo a ser incluído no currículo de formação;- o uso dos resultados em cursos de formação continuada de professores.
O período investigado compreende a produção entre 1972 e 1995, correspondendo a um total de 572 documentos, sendo 498 dissertações, 67 teses de doutorado e 7 teses de livre-docência, com cerca da metade defendida em apenas três instituições acadêmicas: 29,4% na USP; 18,0% na UNICAMP e 5,4% na UFRJ. As demais 28 instituições produtoras de trabalhos no campo de Ensino de Ciências contribuíram com um percentual inferior a 5,0%. (p. 154 apud Megrid 2000)

No entanto, pondera o cenário apontando que na década de 90 novos programas de mestrado e doutorado surgiram e acrescenta que
Relativamente aos conteúdos curriculares, das 572 pesquisas, 43,7% abordam assuntos mais diretamente vinculados ao campo da Física; 15,0%, ao da Biologia; 12,2% ao da Química; 7,0% ao da Saúde; 6,7% ao da Educação Ambiental e 1,6% ao da Geociências. Há, ainda, trabalhos que não privilegiam uma área em particular. Quero destacar que, se, de um lado, a maior concentração da pesquisa em EC está na área de ensino de Física, fato compreensível devido ao seu pioneirismo, por outro lado, os dados demonstram que o campo não se reduz a ela. Ainda, mais de 50 % desta produção é oriunda de programas e cursos de pós-graduação em Educação vinculados a Centros ou Faculdades de Educação, distintamente dos dois históricos de EF (USP e UFRGS), que estão vinculados a Institutos de Física. (p. 155)

O ponto mais alto do trabalho está no quadro de focos temáticos que emergiram a partir da análise desses catálogos de teses e dissertações.
Fonte: Delizoicov (2004, p. 156)

Quanto aos orientadores desses trabalhos, Lemgruber (2000), que tem como referência os dados do CEDOC e, portanto, trata também do período 1972-1995, ao analisar a produção de dissertações e teses que têm apenas o ensino fundamental (36,2%) e o médio (43,5%) como foco, em um total de 288 trabalhos, localiza aqueles que foram responsáveis por quatro ou mais orientações. A partir dos dados que ele apresenta, temos uma síntese interessante: 120 trabalhos (cerca de 40%) foram orientados por 17 orientadores, sendo 9 da área de Física (8 da USP e 1 da UNICAMP), responsáveis por 80 orientações (66,7%); 3 da área de Pedagogia, (2 da UFRJ e 1 da PUC-RJ) com 12 orientações (10%); 2 da área de Química (1 da UNICAMP e 1 da UFSC) com 10 orientações (8,3%); 1 da área de Biologia (USP) com 9 orientações (7,5%) e 1 da área de Letras (UNICAMP) com 7 orientações (5,8%) (p. 156 - 157)

Evidencia-se desta forma que a maior parte da produção científica da área do ensino de ciências é orientada por físicos da USP. No entanto, 15% da produção da área é orientada por profissionais e outras áreas do conhecimento que não as ciências naturais. Ao longo do texto, o autor vai afirmar por diversas vezes que esse estudo compreende a análise das produções até 1995 e que passados mais e quinze anos, a área do EC evolui bastante e tal quadro já se encontra desatualizado.
Não se sabe o quanto evoluiu, quais novas linhas de pesquisa emergiram, se as antigas linhas se ampliaram ou decaíram, etc. A exemplo disso o autor vai apontar um estudo realizado na área do Ensino de Biologia.
Será necessário obter um panorama das dissertações e teses defendidas após 1995 de modo a se realizar uma análise mais atualizada e localizar possíveis alterações no quadro esboçado. Ainda que parcialmente, o trabalho de Slongo (2003) pode dar alguma sinalização, pelo menos no que se refere à área de conteúdo curricular de Biologia. Assim, são localizados mais 44 trabalhos defendidos sobre o ensino de Biologia (EB) no período 1996-2000. Temos, então, para o período 1972-2000 um total de 110 dissertações, 19 teses de doutorado e uma de livre docência, totalizando 130 trabalhos, uma vez que no período 1972-1995 tínhamos 86. Verificamos um crescimento expressivo, qual seja, produziu-se em 5 anos mais da metade do que a pesquisa em EB produziu nos 23 anos anteriores, isto é, 30% dos trabalhos foram defendidos nos último 5 anos.

Apesar de aparecem 48, isso se deu pelo fato de existirem trabalhos que se enquadram em mais de um foco temático mas na verdade, o total foi de 44 trabalhos. Percebe-se uma mudança nesse quadro e relação ao anterior. Contatou que: a área de história e filosofa da ciência se consolidou nesse período ampliando em número de publicações, já o interesse pela linha e currículos e programas tem diminuído e as publicações nesse campo tem sido cada vez mais raras; as da linha de concepções espontâneas e mudança conceitual “que era a tônica durante a década de 80 e início de 90 do século passado e presente com freqüência relativamente alta nas publicações e congressos do campo, tem tido presença cada vez mais rara” (p. 162). Novas linhas surgira tais como a de representação de professores.
O quarto tópico intitulado “Aspectos epistemológicos da produção em EC” vai investir em analisar a perspectiva epistemológica dos estudos na área do ensino de ciências Este estudo de Demétrio Delizoicov se constitui num texto de leitura obrigatória em todos os cursos de Física Licenciatura e nos Grupos de Pesquisa em Ensino de Física brasileiros. Constitui-se no estado da arte da pesquisa em ensino de física até 1995 e aponta a urgente necessidade da continuidade desse estudo.
A preocupação do autor em dar resposta a sociedade das pesquisas que são produzidas na universidade é evidente ao longo do texto e é compartilhada com o leitor n sentido de que as pesquisas em ensino de física devem repercutir na prática pedagógica para que tenham sentido de ser. Neste sentido, os ocos temáticos que o autor aponta servem como direções a partir das quais as pesquisas em ensino de física podem ser classificadas.

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